16.12.07

Uma ilha de influenza

O poder de influenciar pessoas. Todo o poder de artilharia do potencial criativo. Uma rede de influências a partir de um ponto qualquer no universo. A modificação de quem recebe a informação. Pra sempre. Uma metralhadora giratória disparando inverdades incongruentes de um mustang conversível 1962, deserto do Texas afora. Leaving Vegas. Nada cala mais fundo do que observar as plantações de originalidade que brotam por aí. Lisonja. O visco do veneno. O prazer da bomba armada, explodindo várias vezes por minuto. Silencioso e incendiário.

7.12.07

derradeiro olhar

Quatro anos e você volta para o mesmo subterrâneo. Quatro anos na mesma tarde fria. O final encontra o início no final. Você andou o mundo, abriu as portas, molhou o rosto. Conheceu os poetas magros sujos de lama, os operários que limpam os trilhos e perguntam como vai a família. Você deu um salto pra chegar ao andar de baixo. Ergueu a cabeça e fingiu prestar atenção – como naquele filme que passou no final do ano – esperando que ela se materializasse e agradecesse o interesse dispensado. Você foi, voltou, foi de novo, passou de volta, entrou, subiu, olhou a todos. E agora?

Agora volta pra casa, sozinho. Com as luzes da periferia.

5.12.07

Galera says

"Nunca esqueça que não há evidência nenhuma de que qualquer ser humano na face da terra esteja minimamente interessado no que você tem a dizer. "


Daniel Galera, na sua melhor entrevista, ao Movimento Inversos.



p.s: mas como eu faço pra ler a tal entrevista, anta?

R. Fácil, clica no título do post, catzo!

19.11.07

gaveta no overmundo

A segunda edição do zine gaveta está disponível para download no Overmundo. Ajudem a colocá-lo na página principal. É só cadastrar seu e-mail e votar. Rápido, fácil e indolor: http://www.overmundo.com.br/banco/fanzine-gaveta

A equipe agradece a sua participação.


- O que nós vamos fazer amanhã, Cérebro?

- O de sempre, Pinky, vamos conquistar o mundo.

14.11.07

sweet comedy

“Vi um cavalo morto ontem.” Isso é coisa que se diga pro namorado no meio de uma sessão de cinema? Por que não “que enquadramento inventivo!”, “demais esse plano seqüência”, ou ainda “essa fotografia me lembra os dilemas existenciais de Bergman e Antonioni”. Mas não. “Vi um cavalo morto ontem, todo necrosado. E a culpa é sua!” Poxa, deixa eu lembrar dos filmes do Cassavetes, com a Gena Wolands. Deixa eu cansar de ser indie. Não me venha com cavalos mortos e necroses. Vamos ter uma tarde romântica, sem escatalogias. Vamos rir um do outro idilicamente, aproveitar o pôr-do-sol, os últimos raios que resplandecem em seus cabelos. Vamos viver assim, entre risadas e tolices, meu amor.

8.11.07



É sábado. É depois de amanhã. É hoje!

5.11.07

E tenho orgulho dos inimigos conquistados. São parte do que levamos.

1.11.07

É, essa é a única certeza de hoje. Quero almoçar na padaria.

28.8.07

The kkk took my baby away

Espera


Espera


Espera,



Vai correndo, busca-vida de volta.


[Let her get on with life
Let her have some fun]

7.8.07

27.6.07

Culpa da remela

Queria escrever um livro. Editar uma revista. Todos os zines das nossas cabeças. Essas idéias esquisitas que penso que todo mundo pode ter e fico matutando com elas, assim macambúzio no meu canto, pensando no que vou ser, no que me tornei. E vejo que devo me tornar um empreendedor como meu pai, que amo tanto. Foi isso que herdei dele, essa incapacidade de ficar parado. Tem uma certa coragem aí, mas ele tá infinitamente na minha frente, óbvio. preciso aprender.





p.s. É, costumo me confessar às 8 da manhã pra uma tela de computador e um email despretensioso.

18.6.07

Liturgias

Cansei do resenhismo pagão, só agora me dou conta. E a leitura virou ato mecânico. Não percebo diferenças porque não há diferenças nos textos de 10 pretensos zines eletrônicos. O formato morreu. Perdeu o frscor de guerrilha saudável porque agora todo mundo pode brincar de editor-indie do seu portal pessoal. Modernices?

Vou rabiscar, volto amanhã.

15.6.07

Festa?!

Caralho, o blog tá fazendo um ano e não chega a 40 postagens. É uma birosca mesmo. Quem espera disciplina vinda de mim? Faz meses que o plano de remodelagem paira pelos neurônios aqui, mas como diz Maria Alice Vergueiro, " é tudo culpa dessa minha letargia atávica." Aí esmoreço e nada sai do lugar. Aliás, nada sai do lugar, a gente é que passa a enxergar diferente. Baita clichê. Eu me repito, me reproduzo e regorgito, glup!

5.6.07

Alguém me diz

Por que diabos eles precisam saber qual o meu hobby? Por que? Por que?! Quem foi o desgraçado dos infernos do RH que teve essa brilhante idéia? E eu só quero abrir uma conta pra finalmente poder receber meus muitos meses de salário atrasado pela prefeitura incompetente. Não, não quero me casar com a filha do gerente, não agora.
Se eu casar, meu problemas estarão resolvidos?

8.5.07

Mulheres, cheguei!

Quase dois meses de ausência. Um ataque de bundamolismo vergonhoso. Deprimente. Agora tá bom, chega de fazer cara de bunda e dizer que "tá difícil"; deve estar difícil me aguentar por aí. Agora vai ser por aqui. Quase um ano de atividade - em marcha lenta - tá na hora de algo que valha a passagem alheia. É hora de tocar o terror.

Vou pra montanha com banda larga, me enfurnar numa caverna com um estoque considerável de vodca na dispensa. Ou vou pra Garanhuns - fingindo que é Campos do Jordão - num "amores expressos" particular.

Cansei de ser difícil...

12.3.07

Eu preciso ser forjado. Vem me empurrar na auto-sabotagem.

11.3.07

Sobre os dias modorrentos

Posso dizer que me transformei num senhor conservador, modorrento e chato. Insuportável. Esqueça-me, já fui pro saco.

Só Bandini me entende e bebe comigo. E Amy escuta as lamúrias e passa a mão em meus cabelos.

Queria que chovesse todos os dias.

22.2.07

o sucesso toca aqui

É, bonnie tyler me persegue. Seja no canal enlameado lá na periferia boa, seja no ônibus-frigorífico que me leva pro ócio. Ela tá sempre lá na FM preferida do ouvinte. Turn around, bright eyes. E ainda tira minha concentração da revista cult-indie do momento. Começa a bater pezinho e aí já viu. There's nothing I can do, a total eclipse of the heart.

13.2.07

E o depois?

Você parou pra pensar em como deve estar se sentido a pessoa que ficou com a vaga na Ufal? Pensei. Dizem por aí que sôo estranho.

põe vinho na roda jesus!

vai pilatos

lava as mãos amor,

o trem está atrás de nós

e você não chegou

nem vai checar

que os homens de jericó

se transformaram em outsiders,

lá,

na beira da lagoa.




E o que nos resta agora são histórias de culpa e desespero.

11.2.07

a porra do meu amor enlouquece

vicia

questiona

embriaga



em toda a cidade

não há quem não se lambuzou

na porra do meu amor

5.2.07

Ah. Já deu. Morar atrás de um salão de festas tem suas desvantagens. Um salão de festas de baixo nível então... De todas as inglórias melodias que ousavam trepidar o chão do meu quarto, só Madonna, e olhe lá. Kelly Clarkson? MC Leozinho? Roberto Carlos Remixe’s? Francamente. Começar uma ‘festa’ às 21h de um domingo?! Meu reino por um porrete. Sub AK-47. Serra elétrica. E eu só queria ver o Manhattan Connection, na tranqüilidade do chão frio da minha sala Não deu. Vou à reprise. Waaal.




Ontem, há dez anos, Paulo Francis foi pro céu.

29.1.07

Menphis lovesong

Em meio a canções pop

e vinho barato

teu cheiro teima

e não sai das minhas mãos

aquele disco do jarvis,

gosto de sangue na boca,

a gente se ama sob a luz da tv -

"não faz barulho

pra ser feliz baixinho".

25.1.07

O cheiro da fumaça me inebria

Numa tarde de sexta-feira como essa, caminhar pelo centro da cidade revela-se interessante. Como seria em qualquer outro dia, menos no domingo, claro. Numa tarde de sexta há a mistura de descontração e alívio pelo final de uma semana de trabalho, teoricamente. A partir de agora o copo estará na mesa, a garrafa gelada, a fumaça do churrasquinho excêntrico ali da esquina penetrando em nossas narinas e nos deixando temerosos.

Uma semana cheia de trabalho. Teoricamente. Apenas para, digamos, uma parcela da população economicamente ativa. O número de figuras peculiares salta aos olhos fácil, fácil. A fauna lúgrube a planar pelos becos e vielas da cidade imunda. Transeuntes malemolentes em busca de uma nova jogada. Malevolentes em busca da perdição na mesa do bar.

O velho desdentado, o freak de black power loiro, o pedreiro obsceno – “essa eu chupava toda até desmaiar” – a dona do boteco de seios fartos que sua sem parar e não lava as mãos porque falta água naquela pocilga onde gente como nós enche a cara e vira bobo alegre. E na corrida de obstáculos que é a ida até o ponto de ônibus (que sempre vem lotado), cuidado com os trombadinhas, cheira-cola, delinqüentes e afins. Porque nesse pardieiro tem de um tudo muito estranho.

À sombra das árvores indecentes que rasgam a calçada com furor sexual paira o bundamolismo dos malandros desempregados que sabem que morrerão assim, malandros vagabundos em busca de alguma mal amada para traçar e sugar até o osso.

O tempo avança e os freaks se aglomeram no seu gueto, onde suas libertinagens ganham vida própria.

marcs

porra-louca comuna

porra-louca proletário

porra-louca não é nem minha voz,

meu bem.

20.1.07

Prazeres e delícias de 20 meses intensos

Eu que era triste, gauche, sozinho nesse mundo, ao encontrar você descobri o que é felicidade, meu amor, cretino amor. Meu intenso e inescrupuloso amor. Mas o que este imprestável coração veio me aprontar, assim de repente, sem mais nem menos nem pra quê hein?

Aqui sim um coração há muito desabitado, empoeirado e carcomido. Plagas nunca antes desbravadas por uma delícia como só Ela é, finalmente invadindo o território proibido. Sim. Desbravar. Sentir e tocar. Nesses pouco mais de 600 dias nunca fui tão eu quanto sendo teu. E toco tu boca no nosso jogo louco de armar.

E se preocupa e toma conta e compartilha a cumplicidade do olhar-gêmeo. Ciclopes. Vamo junto o dia todo, todo dia um de cada vez. E brinca de casal independente e maduro que mora junto no fim de semana que os papais não estão em casa. É quase frívolo. Se não fôssemos nós dois.

E saímos em nossas incursões “etílico-sociológicas” por que, o que é a vida senão desbravá-la ao teu lado? Porque nos encontramos na noite suja. A limpamos com nosso visco. Lendo os versos favoritos, fingindo que tô-com-sono-vamos-dormir só pra ser mais gostoso. Porque conosco sempre é mais.

A gente toma heineken com chicabom e alcança a efêmera olhando as estrelas lá no teto. A gente brinca, sorve, se encolhe. O sol particular que brilha aqui dentro.

Mais 20, 40, 80, 120 eternidades. Vivendo tudo. Sentindo cada linha até o talo. Do teu lado, coragem me acompanha fácil, fácil. Ficamos prontos, irrequietos, ansiosos. Venha o que vier pra gente espremer todas as gotas desse clichê ridículo, amor da minha vida.

______________

texto publicado no fanzine SEQUELA, que deu muito gás de fazer junto com a querida castellotti. essa porra de zine vicia...

15.1.07

Espaço invadido

Hay que ser realmente idiota para...


Hace años que me doy cuenta y no me importa, pero nunca se me ocurrió escribirlo porque la idiotez me parece un tema muy desagradable, especialmente si es el idiota quien lo expone.

Puede que la palabra idiota sea demasiado rotunda, pero prefiero ponerla de entrada y calentita sobre el plato aunque los amigos la crean exagerada, en vez de emplear cualquier otra como tonto, lelo o retardado y que después los mismos amigos opinen que uno se ha quedado corto. En realidad no pasa nada grave pero ser idiota lo pone a uno completamente aparte, y aunque tiene sus cosas buenas es evidente que de a ratos hay como una nostalgia, un deseo de cruzar a la vereda de enfrente donde amigos y parientes están reunidos en una misma inteligencia y comprensión, y frotarse un poco contra ellos para sentir que no hay diferencia apreciable y que todo va benissimo. Lo triste es que todo va malissimo cuando uno es idiota, por ejemplo en el teatro, yo voy al teatro con mi mujer y algún amigo, hay un espectáculo de mimos checos o de bailarines tailandeses y es seguro que apenas empiece la función voy a encontrar que todo es una maravilla. Me divierto o me conmuevo enormemente, los diálogos o los gestos o las danzas me llegan como visiones sobrenaturales, aplaudo hasta romperme las manos y a veces me lloran los ojos o me río hasta el borde del pis, y en todo caso me alegro de vivir y de haber tenido la suerte de ir esa noche al teatro o al cine o a una exposición de cuadros, a cualquier sitio donde gentes extraordinarias están haciendo o mostrando cosas que jamás se habían imaginado antes, inventando un lugar de revelación y de encuentro, algo que lava de los momentos en que no ocurre nada más que lo que ocurre todo el tiempo.

Y así estoy deslumbrado y tan contento que cuando llega el intervalo me levanto entusiasmado y sigo aplaudiendo a los actores, y le digo a mi mujer que los mimos checos son una maravilla y que la escena en que el pescador echa el anzuelo y se ve avanzar un pez fosforecente a media altura es absolutamente inaudita. Mi mujer también se ha divertido y ha aplaudido, pero de pronto me doy cuenta (ese instante tiene algo de herida, de agujero ronco y húmedo) que su diversión y sus aplausos no han sido como los míos, y además casi siempre hay con nosotros algún amigo que también se ha divertido y ha aplaudido pero nunca como yo, y también me doy cuenta de que está diciendo con suma sensatez e inteligencia que el espectáculo es bonito y que los actores no son malos, pero que desde luego no hay gran originalidad en las ideas, sin contar que los colores de los trajes son mediocres y la puesta en escena bastante adocenada y cosas y cosas. Cuando mi mujer o mi amigo dicen eso --lo dicen amablemente, sin ninguna agresividad-- yo comprendo que soy idiota, pero lo malo es que uno se ha olvidado cada vez que lo maravilla algo que pasa, de modo que la caída repentina en la idiotez le llega como al corcho que se ha pasado años en el sótano acompañando al vino de la botella y de golpe plop y un tirón y no es mas que corcho.

Me gustaría defender a los mimos checos o a los bailarines tailandeses, porque me han parecido admirables y he sido tan feliz con ellos que las palabras
nteligentes y sensatas de mis amigos o de mi mujer me duelen como por debajo de las uñas, y eso que comprendo perfectamente cuánta razón tienen y cómo el espectáculo no ha de ser tan bueno como a mí me parecía (pero en realidad a mí no me parecía que fuese bueno ni malo ni nada, sencillamente estaba transportado por lo que ocurría como idiota que soy, y me bastaba para salirme y andar por ahí donde me gusta andar cada vez que puedo, y puedo tan poco). Y jamás se me ocurriría discutir con mi mujer o con mis amigos porque sé que tienen razón y que en realidad han hecho
muy bien en no dejarse ganar por el entusiasmo, puesto que los placeres de la inteligencia y la sensibilidad deben nacer de un juicio ponderado y sobre todo de una actitud comparativa, basarse como dijo Epicteto en lo que ya se conoce para juzgar lo que se acaba de conocer, pues eso y no otra cosa es la cultura y la sofrosine. De ninguna manera pretendo discutir con ellos y a lo sumo me limito a alejarme unos metros para no escuchar el resto de las comparaciones y los juicios, mientras trato de retener todavía las últimas imágenes del pez fosforecente que flotaba en mitad del escenario, aunque ahora mi recuerdo se ve inevitablemente modificado por las críticas inteligentísimas que acabo de escuchar y no me queda más remedio que admitir la mediocridad de lo que he visto y que sólo me ha entusiasmado porque acepto cualquier cosa que tenga colores y formas un poco diferentes. Recaigo en la conciencia de que soy idiota, de que cualquier cosa basta para alegrarme de la cuadriculada vida, y entonces el recuerdo de lo que he amado y gozado esa noche se enturbia y se vuelve cómplice, la obra de otros idiotas que han estado pescando o bailando mal, con trajes y coreografías mediocres, y casi es un consuelo pero un consuelo siniestro el que seamos tantos los idiotas que esa noche se han dado cita en esa sala para bailar y pescar y aplaudir. Lo peor es que a los dos días abro el diario y leo la crítica del espectáculo, y la crítica coincide casi siempre y hasta con las mismas palabras con o que tan sensata e inteligentemente han visto y dicho mi mujer o mis amigos. Ahora estoy seguro de que no ser idiota es una de las cosas más importantes para la vida de un hombre, hasta que poco a poco me vaya olvidando, porque lo peor es que al final me olvido, por ejemplo acabo de ver un pato que nadaba en uno de los lagos del Bois de Boulogne, y era de una hermosura tan maravillosa que no pude menos que ponerme en cuclillas junto al lago y quedarme no sé cuánto tiempo mirando su hermosura, la alegría petulante de sus ojos, esa doble línea delicada que corta su pecho en el agua del lago y que se va abriendo hasta perderse en la distancia. Mi entusiasmo no nace solamente del pato, es algo que el pato cuaja de golpe, porque a veces puede ser una hoja seca que se balancea en el borde de un banco, o una grúa anaranjada, enormísima y delicada contra el cielo azul de la tarde, o el olor de un vagón de tren cuando uno entra y se tiene un billete para un viaje de tantas horas y todo va a ir sucediendo prodigiosamente, el sándwich de jamón, los botones para encender o apagar la luz (una blanca y otra violeta), la ventilación regulable, todo eso me parece tan hermoso y casi tan imposible que tenerlo ahí a mi alcance me llena de una especie de sauce interior, de una verde lluvia de delicia que no debería terminar más. Pero muchos me han dicho que mi entusiasmo es una prueba de inmadurez (quieren decir que soy idiota, pero eligen las palabras) y que no es posible entusiasmarse así por una tela de araña que brilla al sol, puesto que si uno incurre en semejantes excesos por una tela de araña llena de rocío, ¿qué va a dejar para la noche en que den King Lear? A mí eso me sorprende un poco, porque en realidad el entusiasmo no es una cosa que se gaste cuando uno es realmente idiota, se gasta cuando uno es inteligente y tiene sentido de los valores y de la historicidad de las cosas, y por eso aunque yo corra de un lado a otro del Bois de Boulogne para ver mejor el pato, eso no me impedirá esa misma noche dar enormes saltos de entusiasmo si me gusta como canta Fischer Dieskau. Ahora que lo pienso la idiotez debe ser eso: poder entusiasmarse todo el tiempo por cualquier cosa que a uno le guste, sin que un dibujito en una pared tenga que verse menoscabado por el recuerdo de los frescos de Giotto en Padua. La idiotez debe ser una especie de presencia y recomienzo constante: ahora me gusta esta piedrita amarilla, ahora me gusta "L'année dernière à Marienbad", ahora me gustas tú, ratita, ahora me gusta esa increíble locomotora bufando en la Gare de Lyon, ahora me gusta ese cartel arrancado y sucio. Ahora me gusta, me gusta tanto, ahora soy yo, reincidentemente yo, el idiota perfecto en su idiotez que no sabe que es idiota y goza perdido en su goce, hasta que la primera frase inteligente lo devuelva a la conciencia de su idiotez y lo haga buscar presuroso un cigarrillo con manos torpes, mirando al suelo, comprendiendo y a veces aceptando porque también un idiota tiene que vivir, claro que hasta otro pato u otro cartel, y así siempre.

Júlio Cortázar


P.S: porque esse texto explica muita coisa sobre o momento. traduz a inoperância.