29.10.08

O som de 2008: Fleet Foxes, White Winter Hymnal

Alunos da Escola Beach Boys de harmonia vocal. Depois mostro a versão animada que vale a pena.

6.10.08

Rola a bola, começa o jogo

No início do ano entrevistei o Lucas Murtinho sobre a Copa de Literatura Brasileira, que na época preparava sua segunda edição. A peleja começou há 2 semanas, vale acompanhar:

“Um prêmio é um guia que pode chamar a atenção do leitor para alguns livros.” É assim, como uma tentativa de se tornar um filtro relevante no meio da tempestade de informação da internet, que a Copa de Literatura Brasileira colhe os frutos de sua primeira edição e ajusta o time de jurados para a entrada em campo em 2008. O Gaveta foi ouvir o “crítico de fim de semana” Lucas Murtinho, capitão e cartola que aposta no bom humor da iniciativa e na participação decisiva do público – argumentado e questionando os resultados dos “jogos” – sobre as impressões e expectativas para esta competição. A bola rola no www.copadeliteratura.com .


Qual o equilíbrio ideal entre seriedade e bom humor para um prêmio literário? Nossos prêmios sofrem de uma sisudez crônica?

É puxar muito a brasa para a minha sardinha dizer que o equilíbrio ideal é o da Copa? Segue a explicação: a Copa é bastante séria quando se trata de falar dos livros em si. Cada jurado põe a cara a tapa ao assinar a resenha de um jogo, e precisa justificar bem sua escolha. O bom humor fica por conta do regulamento, do clima de campeonato e da torcida por este ou aquele livro - e das referências a futebol que os jurados volta e meia fazem. Ou seja, o humor é usado para atrair o leitor, mas quando ele chega à Copa o papo sobre literatura é sério.
Prêmios, literários ou não, no Brasil ou no exterior, costumam ser sisudos: se você quer que as pessoas te levem a sério quando você diz "eu digo que este [livro, filme, quadro, jogador de futebol] é o melhor do ano e vocês têm que acreditar em mim", é bom não rir no meio da frase. "Crônica" talvez seja exagero, mas acho que essa sisudez atrapalha um pouco. Tem muita gente que acaba mantendo os prêmios à distância, por respeito excessivo ou sincera impaciência. A Copa é uma tentativa de atenuar esse quadro.

Quais os números da edição 2007 e as expectativas para 2008 [acessos, comentários, gastos financeiros, participação das editoras]?

2007: Livros: 16. Jogos: 15. Visitantes únicos: 3000 por mês. Comentários: 800. Gastos financeiros: um pouquinho com envio de livros aos jurados. Participação das editoras: modesta mas fundamental (porque sem os livros que elas nos cederam a Copa provavelmente não teria acontecido). Diversão: muita.
Em 2008 o número de jogos vai aumentar (de 15 para 17, por causa da rodada de repescagem) e espero que o de visitantes e comentários também. Estou procurando patrocínio para poder pagar algo aos jurados e à nossa programadora visual, a Renata Miloni da revista Malagueta, que foi jurada na CLB 2007 e tem me ajudado muito, e também para fazer um pouco de publicidade sobre a Copa e atrair mais público. O número de livros não mudou, e espero que a quantidade de diversão também não mude.

Como uma premiação que se assume "abertamente injusta" pode instigar a participação e o acompanhamento do público? Todas as premiações são injustas?

Começando pela segunda pergunta, que é mais fácil: sim. Não faz sentido acreditar piamente no que um punhado de jurados diz sobre a qualidade literária de tal ou tal livro. Usar os prêmios como um guia de estrada é uma boa idéia - eu mesmo faço isso com o Booker Prize, da Inglaterra - mas é inevitável discordar de muitas decisões. Gosto pode até se discutir, mas não se transfere, e o dos jurados não é melhor ou mais correto do que o dos leitores.
O prêmio é um guia que pode chamar a atenção do leitor para alguns livros. No "abertamente injusta", importa mais o advérbio do que o adjetivo: não queremos impor nossos gostos a ninguém. Mas queremos falar desses livros, da literatura brasileira contemporânea, e convidar os leitores a tirar suas próprias conclusões - lendo.

A Copa já pode ser considerada um sucesso consolidado na internet brasileira? Foi preciso vencer a desconfiança de alguns no início?

Consolidado, não, mas espero chegar lá daqui a alguns anos. A desconfiança em relação à Copa foi surpreendentemente - quase frustrantemente - pequena. Talvez uma oposição mais furibunda tivesse levado a um grande debate sobre a Copa e a mais público para nós, mas houve apenas alguns blogueiros que acharam a idéia estranha, mal explicada ou inútil. O que, claro, é normal.

Qual o papel dessa comunidade literária virtual para o êxito da edição 2007? É possível radiografar essa comunidade?

A Copa, de certa forma, ainda é um evento conhecido basicamente por esse grupo que você chama de "comunidade literária virtual". Ou seja, a Copa deve tudo a esse grupo - e o grande desafio é fazer um prêmio totalmente baseado na Internet atravessar a fronteira virtual, o que está começando a acontecer. A radiografia, por ser a Internet esse bicho tão estranho, é muito difícil de ser feita. Vira e mexe encontro um blog legal e bem conhecido por outras pessoas do qual eu nunca tinha ouvido falar. Assim, no susto, eu escapo pela tangente dizendo que temos um pouco de tudo: escritores publicados buscando maior contato com o público, escritores não publicados que querem ser publicados, críticos de fim de semana - como eu -, jornalistas, uma divertida bagunça. Ainda sinto falta de blogs que aproveitem o espaço da Internet para escrever resenhas longas, ou até ensaios, sobre livros e literatura. Mas o que temos já dá assunto pra muita conversa.

Você acredita que a Copa tem potencial de agregar valor aos seus livros competidores, a ponto de o vencedor ter o seu título divulgado com ênfase como acontece com outros prêmios brasileiros [Jabuti, Sesc]?

A idéia é essa, né? Ao mesmo tempo, acho que esse valor que os prêmios tradicionais agregam é inflado pela fachada de imparcialidade que a Copa não tem. Se a gente mesmo diz que ser campeão da Copa não quer dizer que o livro é o melhor do ano, fica difícil convencer as editoras a usar o prêmio como argumento de venda. Mas claro que eu gostaria de ver o selo de Campeão da CLB - que já está no site do Luiz Antonio de Assis Brasil, vencedor da primeira edição e jurado da segunda - em livro.

O Brasil não tem muita tradição em "escritores-críticos", que resenham seus pares, insentos de vaidades e interesses. A copa pode mudar este quadro, revigorar/aprofundar o cenário da crítica literária brasileira em suas resenhas?

Sim, sim, sim, definitivamente sim. Quer dizer, não sei se a Copa pode mudar o quadro, mas espero que ela mude.
A desculpa normalmente é que a cena literária brasileira é muito pequena e todo mundo se conhece, então fica difícil para um escritor falar mal do livro de um colega sabendo que eles vão se cruzar na próxima festa de lançamento. Eu já acreditei nisso por um tempo, mas hoje acho que é balela: a cena literária é pequena em todo lugar - a Lionel Shriver, escritora e crítica, já escreveu um artigo sobre isso num jornal britânico. É um atalho imperdoável para quem nunca leu "Raízes do Brasil", mas essa tradição de só falar bem dos pares faz pensar imediatamente na "cordialidade" captada pelo Sérgio Buarque de Hollanda. Isso empobrece muito a conversa sobre literatura no Brasil. Espero que a Copa prove que é possível falar dos defeitos de um livro sem xingar o autor nem provocar sua ira.

E como a internet pode contribuir para o debate literário? A questão passa obrigatoriamente pela interatividade, ou igualdade entre a crítica e o público leitor?

É bom distinguir "interatividade" e "igualdade": a Copa, por exemplo, é interativa mas nem um pouco igualitária - afinal de contas, a palavra do jurado é lei. Como já disse, gosto é algo pessoal e intransferível, por isso é bom também ressaltar que a igualdade boa é a igualdade liberal, segundo a qual a opinião de uma pessoa vale tanto quanto a de outra; a igualdade democrática, segundo a qual a opinião certa é a da maioria, não faz sentido nesse contexto. Mas filosofo. Como também já disse antes, a Internet é fundamental pelo espaço que ela oferece ao escritor, seja ele um ficcionista ou um crítico. O lado ruim de tanto espaço é que há muita porcaria na Internet, mas temos vários filtros para nos ajudar. E talvez, se tudo der certo, a lista de jurados da Copa se torne um deles.