16.7.08

Coquetel Molotov divulga programação

A equipe do Coquetel Molotov começou nesta semana a divulgar parte da programação da ediçao 2008 do festival No Ar, marcado para os dias 19 e 20 de setembro no Centro de Convenções da UFPE, em Recife. Abaixo segue o release da produção:
“Peter Bjorn and John, Shout Out Louds, Club 8 e o cantor Marcelo Camelo são algumas das atrações confirmadas para o festival No Ar Coquetel Molotov 2008, que acontece no Centro de Convenções da UFPE, no Recife entre os dias 19 e 20 de setembro. O festival apresenta ao público recifense, em primeira mão, a estréia do projeto solo de Marcelo Camelo (Los Hermanos), em palcos brasileiros.
Junto a Marcelo Camelo, o festival traz mais três novos grupos da Suécia dentro da terceira edição do projeto Invasão Sueca. A parceria do Coquetel Molotov com o Swedish Institute garantiu a vinda dos grupos Club 8 e Shout Out Louds, boas revelações do novo cenário pop sueco, e ainda a famosa banda escandinava Peter Bjorn and John, conhecida em todo o mundo pelo hit “Young Folks”. Os ingressos para o festival começam a ser vendidos antecipadamente a partir de agosto nas lojas Imaginarium, no Shopping Center Recife e Plaza Shopping, com preço promocional de R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia/estudantes).
Atrações - A carreira e o talento de Marcelo Camelo vão bem além dos microfones do Los Hermanos. Em paralelo à banda, Camelo já vinha exercitando um lado de composição diferente ao escrever músicas para a cantora Maria Rita. Com disco pronto para ser lançado em setembro, Marcelo Camelo, em sua primeira aventura solo nos palcos, vem acompanhado de integrantes do grupo paulista Hurtmold e do instrumentista Rob Mazurek para executar ao vivo as músicas de seu disco de estréia. Além do Hurtmold, Camelo contou em seu disco com a participação de Dominguinhos, Domenico Lancellotti, Mallu Magalhães e da pianista Clara Sverner.
Com nove anos de estrada e uma música que conquistou o mundo inteiro apenas com um assovio, o grupo sueco Peter Bjorn and John vem pela primeira vez ao Brasil. Também pisam pela primeira vez em solo brasileiro os conterrâneos escandinavos Club 8 e Shout Out Louds, todos representantes de um novo pop sueco que começa a ganhar força e aparecer para o mundo inteiro. O Club 8, formado por Karolina Komstedt e Johan Angergård, é uma das bandas do elogiado catálogo de artistas do selo sueco Labrador. Seu disco mais recente, “The boy who couldn’t stop dreaming”, lançado no ano passado brinca com melodias alegres e melancólicas ao mesmo tempo.
O Shout Out Louds lançou seu primeiro disco em 2003, “Howl Howl Gaff Gaff”, bastante aclamado por crítica e público na Suécia, o que garantiu um contrato com a Capitol para o relançamento do disco nos Estados Unidos em 2005. Na seqüência veio o álbum “Our Ill Wills”, lançado em 2007, que contém músicas que levaram a banda a se tornar mais conhecida pelo mundo, participando de festivais pelos EUA e Europa.
Mundialmente conhecidos pelo hit “Young Folks”, a música do assobio, que aparece em séries como Gossip Girl e no game Fifa 2008, Peter, Björn and John é uma das bandas mais queridas em todo o mundo. Com turnês realizadas em mais de vinte países e com presença nos principais festivais de música, o PBJ vem ao Recife no embalo do final da gravação do disco sucessor do aclamado “Writer’s Block”.
Programação - O festival No Ar Coquetel Molotov vai além da programação de música e shows e investe cada vez mais em um evento de caráter multimídia com debates sobre temas ligados à arte, crítica musical e cultura digital. Como parte da programação estendida do festival, o No Ar 2008 promove a mostra de filmes Play The Movie, entre os dias 15 e 18 no Cinema da Fundação Joaquim Nabuco, com documentários inéditos, filmes musicais, curtas e uma apresentação audiovisual ao vivo no local.
O festival também reserva espaço no Hall do Centro de Convenções da UFPE para a já tradicional Feira Cultural com expositores de moda, artes plásticas, selos musicais e zines. A programação completa de eventos com a mostra de filmes Play The Movie e a relação completa das 16 atrações do festival deste ano será divulgada no início de agosto”.
NO AR COQUETEL MOLOTOV 2008
Marcelo Camelo, Peter Bjorn and John, Shout Out Louds, Club 8 e muito mais
Local: Recife - Centro de Convenções da UFPE
Datas: 19 e 20 de setembro de 2008
Ingressos antecipados: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia)

O som de 2008 - MGMT, Kids

Detalhe pras meninas do CSS assistindo tudo do palco.

10.7.08

3.7.08

Desova - parte dois




Por dentro da árvore-mãe


Imagine-se dentro de uma floresta. Uma floresta de árvores musicais. Cada uma com galhos e folhas mais espessos que a outra. Assim pode ser retratada a música pop produzida nos Estados Unidos e na Inglaterra nos agitados anos 60. Em junho de 1967 surgiu a árvore mais frondosa que iria redefinir todo o destino da floresta. "Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band – Um ano na vida dos Beatles e amigos", do jornalista inglês Clinton Heylin traça a trajetória da mais cultuada e estudada obra da discografia dos quatro rapazes de Liverpool, os Beatles.

O autor não vê apenas a árvore-mãe, mas sim a floresta inteira, que compunha um cenário musical efervescente impulsionado por LSD (o ácido lisérgico) e experimentalismos do fim dos anos 60. O livro traça de perto os bastidores do trabalho não só dos Beatles, mas também das outras bandas que competiam para ver quem expandiria as fronteiras do que então era classificado apenas como música pop: Bob Dylan, os californianos dos Beach Boys e The Byrds e os ingleses que começavam a despontar, o Cream do jovem Eric Clapton e o Pink Floyd liderado por Sid Barret (1946 – 2006).

O livro coloca-nos dentro dessa corrida psicodélica em 1967. Vamos à Los Angeles iluminada pelos primeiros raios da contracultura e do movimento hippie; e à Londres dos estúdios de Abbey Road, onde os Fab Four entraram em novembro de 1966 para gravar o sucessor de Revolver (disco preferido do autor). O resultado? Cinco meses e mais de 700 horas de gravação depois estava erguida a obra que apesar de não ser explicitamente conceitual – o que muitos críticos afirmam até hoje – consolidou o formato de álbum de rock, o que ainda não existia numa época onde as gravadoras selecionavam e montavam os LP’s com pouca ou nenhuma participação das bandas ou artistas.

A importância do disco, segundo Clinton, está justamente no controle que a banda e o produtor George Martin exerceram sob a sua produção desde o início. Condição esta avalisada por três anos de sucesso e febre mundial ininterruptos potencializados ao máximo pela gravadora e seus executivos vorazes. A gravação de Sgt. Pepper representa o ponto de virada nessa estrutura e sinaliza uma transformação que já se esboçava desde o disco Rubber Soul, de 1965, e que na verdade continuou em curso até a separação do grupo, em 1970. Cresceram não só as cabeleiras, mas também os egos e as tensões provenientes das novas influências de cada um. Eles ainda não sabiam, mas a partir de Pepper e seu intrincado mosaico de referências – desde a capa inovadora até a catarse da última faixa, “A Day in the Life” – o sonho começava a acabar.

Musicalmente, o disco é o resultado final de todos os experimentos sonoros possíveis que um estúdio podia oferecer à época; excessos que lhe conferiram um certo ar barroco em alguns momentos e um todo desigual. “Um álbum com doze canções (uma é reprisada), algumas realmente magníficas, a maioria apenas bem composta, e uns dois tapa-buracos [...]”.

O livro contextualiza esse processo e traz a tona todas as etapas da “saga”. O início claudicante, a presença imprescindível de George Martin na direção musical, o domínio de Paul, a tristeza de um John (1940-1980) infeliz com o primeiro casamento e imerso em doses de ácido, e o crescente descontentamento de George Harrison (1943-2001) com o pouco espaço dado às suas composições. Não faltam detalhes técnicos de cada faixa, do número de instrumentos utilizados, até as datas e horários de cada gravação. O autor esforça-se em mostrar a repercussão na mídia e junto aos outros “competidores”. É interessante observar como a glorificação do disco, automaticamente rotulado como revolucionário e “o melhor de todos os tempos” pela imprensa inglesa, foi substituída pela raiva e negação do passado do movimento punk dez anos após seu lançamento, em 1977, e só no final da década de 80 teve seu prestígio recuperado, processo esse alavancado por toda a onda de relançamento do catálogo da banda para o formato CD, que chegou ao auge em 2007, no seu aniversário de 40 anos.

É nessa análise da recuperação da glória perdida pelo tempo que Clinton Heylin foca atenção em ataques desnecessários a outros jornalistas e críticos musicais, além de detonar a maioria das famigeradas listas de melhores álbuns de todos os tempos, que proliferaram na virada do século e laureavam Sgt. Pepper por qualidades sonoras que o autor afirma não estarem condensadas no disco. Heylin é categórico ao afirmar que o excesso de idéias e conceitos foi determinante para que este não seja considerado o disco primordial dos Beatles. O seu mérito, inegável, está em condensar numa ousadia orquestral e no clima enigmático de suas letras toda a avalanche de transformações não só na musica popular, mas na cultura mundial como um todo. Paul McCartney, em depoimento relatado no livro, reverbera a teoria do “lugar certo na hora certa” do disco. “Em termos de relevância, é impossível continuar a fazer Pepper a vida toda. Ele tocou as notas certas, na época certa. Era estranho, esquisito e imensamente popular. Mais do que marcar, foi o álbum que sintetizou uma época. Pepper era algo de uma inevitabilidade absoluta. Tinha de acontecer. A mentalidade vitoriana dentro da qual fomos criados não podia dar em outra coisa senão nessa festa.”

1.7.08

Desova - parte um

Entrevista com Cecília Giannetti publicada nos extertores de 2007 no Gaveta e no jornal.

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Qual a sensação de levar o primeiro romance recém-saído do forno para a Flip desse ano? Qual sua avaliação do evento?
Adoro a Flip, é minha festa literária preferida. Lá posso ver quase todo mundo de quem gosto, com quem me comunico às vezes apenas por e-mail ao longo do ano, gente de outros estados, regiões, além de fazer amigos novos. Esse ano foi premiadíssimo quanto a isso. A festa propicia, mais que aprendizado e uma programação frenética com grandes autores, um encontro incrível. É pelo encontro que escrevemos, pensava o Sabino, fazendo coro com o Hélio Pellegrino. Escrevemos para o Encontro.
Ter sido convidada foi uma surpresa muito boa. Sentir que acreditaram num romance de estréia, isso me ajudou a aceitar melhor que tinha finalmente terminado de escrever aquele livro. E que estava na hora de começar a escrever o próximo, que será sobre Berlim. Foi muito bom poder conversar com o público durante e depois da minha mesa. Tem pessoas que me escrevem até hoje, enviando suas impressões sobre o livro e contando que o indicaram a amigos. É muito mais do que qualquer resenha em jornal ou revista pode fazer por você. Só esse contato direto com o leitor me tranquiliza em relação ao que escrevi. Sei que o autor tem que ser menos frágil que isso, ou menos fingir que é absolutamente seguro de tudo que escreve, mas às vezes um feedback é necessário, e eu tenho recebido esse feedback dos leitores. Quem mais importa? Faço questão de dar meus contatos: www.escrevescreve.blogger.com.br
Você ainda tem paciência para discussões sobre literatura digital/de internet?
Tenho. Evou ter até que a discussão acabe, porque vai, finalmente, ser aceita como a excrescência que é: Acabo de publicar um livro, pela Ediouro/Agir, “Lugares que não conheço, pessoas que nunca vi”, um romance que não é feito de posts de blog. Parece que saiu uma matéria na Entrelivros mesmo, que mencionava o título entre outros escritos por mulheres, mas se concetrava no sexo das autoras, não na obra.
Às respostas (o primeiro parágrafo, em que falamos de um objeto, que é um livro e nãoum blog, já conta como uma):
Apesar de não existir literatura on-line, literatura de internet ou literatura de blog, o assunto é recorrente. Existem blogs literários; existem sites jornalísticos dedicados à literatura (como o www.portalliteral.com.br, que edito); listas de discussão e fóruns on-line em que os usuários trocam opiniões sobre seus textos de ficção em críticas informais.
Há ainda iniciativas como a da editora inglesa Penguin Books, que lançou o blog A Million Penguins, no qual cada usuário cadastrado podia escrever um capítulo ou pedaço dele, e também reescrever partes desenvolvidas por outros usuários, resultando numa história totalmente criada pelos internautas. Mas não existe uma “linguagem de literatura de internet”. Pode existir, por exemplo, uma história que se desenvolve por meio de trocas de e-mails. Mas não passa de um romance epistolar ambientado no século 21. Ficções curtas em posts podem ser publicadas em papel, permanecendo como ficções curtas, sem qualquer prejuízo em relação ao original. E continuará não existindo a tal da literatura de blog. Não faço literatura digital. Não existe isso.
Por enquanto, o que existe é a internet como caminho para o escritor chegar ao leitor, às vezes antes que possa publicar em papel. Há dez anos, um autor jovem, desconhecido, não tinha meia dúzia de leitores fora de seu círculo de amizades. Hoje, se o que se produz on-line é interessante, em pouco tempo seu blog ganha pencas de leitores. Ou ao menos mais do que meia dúzia deles. E tudo isso antes que tenha um livro lançado.
Por outro lado, a web não encurta o caminho até a publicação – maioria dos editores não tem o hábito de fuçar blogs literários em busca de autores novos. Não existe a literatura on-line como genêro. Não existirá até que surjam histórias na web impossíveis de serem contadas no suporte livro – sob o risco de, impressas, virarem outra coisa que não é absolutamente o que se propunham ser na internet. Aí, caso se reconheça e popularize essa ocorrência extraordinária de literatura intransponível para o papel, valerá debater o surgimento de um novo nicho.
Qual o seu processo de trabalho para escrever as crônicas da Folha? Pesquisa o noticiário da semana?
Eu leio o noticiário mas não me prendo a ele. Justamente para não repeti-lo. Comento brevemente alguma coisa ou outra – como foi o caso do filme “Tropa de Elite”, um assunto que com certeza já cansou o público – mas comento em passant e com humor, como introdução cômica a alguma crônica mais leve. Uso a crônica leve quando percebo que o leitor tá de saco cheio de ler a mesma coisa em todas as seções de todos os jornais. Eu mesma já falei demais de violência e ações do BOPE no Rio de Janeiro antes do “tropa” ser pirateado. Então, pra mim, por exemplo, esse assunto já deu. No caso do acidente da Tam, a crônica foi martelada, doída, dolorosa. Todo mundo se sentia como eu, tive essa impressão pelos e-mails que recebi (e olha que meu e-mail não sai publicado na coluna). A coluna dizia que nós não existimos. Somos invisíveis. Somos nada. Porque, se algo desse porte acontece, e não há consequências, e os motivos são tão intrísecos quanto banais, e tanta gente morre, só posso concluir que não estamos aqui. Ninguém nos vê. A resposta a esse tipo de coluna é fantástica. Fico me sentido tão bem que penso em largar a análise. E aí acontece mais uma merda no país, de fazer tirar a calça pela cabeça, e eu volto pra análise de novo. E pras crônicas mais passionais.
Sua próxima publicação sairá sob o selo do projeto Amores Expressos. Berlim foi escolha sua? Quando sai o livro?
Comecei a escrever, se chama “Café Natal” e se passa em Berlim. Faz parte do projeto Amores expressos, coordenado pelo escritor João Paulo Cuenca e pelo editor e produtor Rodrigo Teixeira. Os autores não escolheram seus destinos. Berlim foi idéia do João. O livro sai quando estiver pronto. Tenho pavor de pressão. E quanto mais um editor me cobra, mais distante do livro me sinto. Gosto que me deixem quieta com ele. O blog do livro é http://blogdaceciliagiannetti.blogspot.com
E aproveito pra esclarecer uma bobagem: o projeto não recebeu qualquer verba da Lei de Incentivo, ao contrário do que aquela revista que costuma nos pregar peças (todos sabem que falo da Veja) e um escritor paulista que só fala de ereções mal-sucedidas alardearam na época. Recebemos dinheiro bom, de empresários que acreditam no projeto. É isso. Ninguém usou dinheiro do governo para viajar a outros países, pesquisar e escrever sobre eles.
Você costuma dar ouvidos aos críticos?
Que críticos?
E aos fãs?
Converso com leitores por internet, sempre que tenho um tempinho respondo os e-mails. É uma alegria. Sou lida. Que mais posso querer?
Qual a importância de um autor novo se mostrar, expor sua obra, ir a eventos e dar entrevistas?
Justamente o contato com o leitor. Quem me lê me conhece em parte. Quem conversa comigo pode conhecer mais um pouco. Quem acaba se tornando amigo, conhece outro lado. E por aí vai. Muitas amizades começam a partir dessa exposição. Eu sou interessada em amizades.
O que te dá tesão em escrever?
Discrepância, ruído, fios trocados, comunicação truncada, dúvidas, meus amigos, viagens, todas as dificuldades que a gente pode encontrar em todo tipo de relacionamento, animais, tempo. Quando eu tenho tempo, leio, e escrevo melhor.
Você já fez fanzine?
Já fiz fanzines, um deles se chamava Cliquè e foi – falta de modéstia – importante na época porque mudou design completamente, e a maneira como fazíamos as esntrevistas era bem louca. O designer do projeto fez meu livro, capa e ilustrações, e hoje atua em outros trabalhos, com a abertura d’A pedra do reino, assim como o livro do Suassuna ligado à minissérie e a exposição.
Cite três livros fundamentais na sua formação literária.
Sendo absolutamente sincera e sabendo que pouco ou nada disso reflete explicitamente no que escrevo, ainda: Franny & Zooey, Paris é uma festa, Complexo de Portnoy. Para ser mais que sincera, Salinger inteiro, Dorothy Parker, todo o ciclo vicioso do Algonquin nos anos 20, biografias e aquela merda toda, Hunter S. Thompsom, Jane Austen, Henry James, MACHADÃO, Lima Barreto, W. H. Auden. Não sou muito ilustrada ainda. Espero ter mais tempo para ler.